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quinta-feira, janeiro 12, 2017

A propósito da morte de Mário Soares e dos mitos de maldicência


Há gente que nasceu de mente quadrada, e, meus amigos, dificilmente se tornará redonda! Isto a propósito das mentiras que tentam que sejam verdades tantas vezes as prega. Nasci em Angola e lá vivi a minha juventude até 1975, ano em que vim para Portugal por vontade própria, tinha 22 anos. Dessa fase da minha vida deixei amigos que ainda perduram.

Na década de 70 a juventude de Angola teria uma visão mais aberta do mundo, mas abrangente, talvez fruto do calor e do horizonte mais longo, mas a inclusão na sociedade de Portugal gerou choque de mentalidades quando aqui desembocaram. Hoje volvidos mais de quarenta anos constato com tristeza que essas mentalidades pararam no tempo e na maioria até regrediu tal o rol de disparates que assumem como verdadeiro sem se darem ao trabalho deles fazerem uma pesquisa séria.

Da "estória" da bandeira todos sabemos que foi contra informação da PIDE, posteriormente da extrema-direita que usou a máquina de propaganda para difundir a mesma. Cito o artigo do público de 08/01/17 assinado por Pedro Guerreiro que refere o momento em que se criou a mentira;


 

 Sobre a bandeira, tanto se lê que Soares cuspiu sobre o símbolo nacional, como que o pisou ou mesmo que o queimou. O incidente teria ocorrido durante uma manifestação em Londres, em Julho de 1973, organizada para contestar a visita de Marcello Caetano ao Reino Unido. Na manifestação, cujos registos são públicos, participaram socialistas e comunistas portugueses e uma miríade de movimentos britânicos de oposição à colonização lusa em África e também ao apartheid. Mas não há registos da suposta profanação do símbolo nacional e muito menos do envolvimento de Soares no ato. O próprio o nega em entrevista a Maria João Avillez (tornada em livro em Mário Soares: Ditadura e Revolução): “Um patriota e um republicano, como eu sou e sempre fui, nunca iria pisar a bandeira da República, que nunca foi a bandeira do salazarismo”. A história, dizia, era uma “imbecilidade”. (Público 08/01/17)

 

A outra “estória” tem a ver com a tal frase “atirem-nos aos tubarões” que em parte alguma está documentada e foi divulgado pelo jornal A Rua cujo autor seria Santana Mota correspondente em Portugal de O Estado de São Paulo. Onde e em que contexto surge essa frase ninguém sabe, nem ninguém demonstra ser da autoria de Mário Soares. Fica a citação também do Público;

De verificação ainda mais difícil é o suposto episódio em que Soares terá dito que a solução para os portugueses brancos de África passaria por atirá-los aos tubarões. A história surge num panfleto com um artigo supostamente publicado em 1977 no jornal A Rua em que se lê que o correspondente do jornal brasileiro O Estado de São Paulo em Lisboa teria escrito que “Mário Soares afirmou publicamente haver uma só solução para o destino dos portugueses brancos ultramarinos – atirá-los aos tubarões”. Só que não se encontra o dito artigo de Santana Mota, o correspondente brasileiro em Lisboa, desconhecendo-se as circunstâncias em que a suposta declaração teria sido produzida ou sequer o seu teor: teria um sentido literal ou seria uma força de expressão? Mais uma vez, e para além de imagens e artigos sem fonte que circulam em publicações saudosistas e de extrema-direita, não existem registos de que a afirmação alguma vez tenha sido feita. (Público 08/01/17).

 

Outro episódio seria a sugestão que os militares deveriam atirar sobre os Portugueses Brancos em África. O contexto é bem diferente é deixo também abaixo no artigo do Público.

 

A atribuição das supostas declarações sobre os portugueses em África também não sobrevive a uma verificação rigorosa. Lê-se nos comentários que, numa entrevista à alemã Der Spiegel, no ano de 1974, Soares teria sugerido abrir fogo sobre os colonos que não aceitassem o processo de independência dos territórios. A citação, no entanto, surge descontextualizada. Na entrevista à revista germânica, e questionado sobre se o exército português em Angola estaria preparado para suprimir uma eventual rebelião da população branca inspirada pelos acontecimentos na Rodésia, o que Soares responde é que o exército “não hesitará e não pode hesitar”. Na mesma conversa, porém, o socialista diz acreditar cada vez menos na eventualidade de uma “solução rodesiana” para Angola, minimizando o risco de uma ação armada por parte dos colonos. Em todo o caso, não existe uma citação direta a suportar a acusação que circula ainda hoje nas redes sociais. (Público 08/01/17).

Estes são os factos que explicam a origem das mentiras. Se alguém quiser continuar a manter este tipo de posicionamento deverá aprofundar as suas buscas e trazer à verdade suporte para o que escreve. Por outro lado deverá também procurar inteirar-se do que foi realmente a vida deste Homem, desde a prisão, deportação, luta e envolvimento em causas de defesa dos direitos humanos, fundação do Partido Socialista Português em solo Alemão, e as suas lutas depois do 25 de Abril.

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